a contrario sensu







não há significado aparente
nos versos que se demoram em
linguagens reversíveis






gabriele corno







rezam as crónicas e as crendices







no demando
amargo e doce
de um costear mais bravo 
a entrância
revolta-se em aplausos febris .acerta o
molde e re.integra-se num des.fazer
homónimos pranteado o mênstruo
 .afigura-se regina
a mater
misantrópica figura que o torno transfigura e
se o reino
for termo
o reiterável assume 
a regência
a-fora o sobrevivencialismo
do ardil
.o mistério subsiste no um dois três e quatro
admitidos como invasivos intróitos
de um acender a noite
despida a manhã num a-deus mais logo
.o vazio acresce






gabriele corno








rendas de branco







é no cadinho de uma acerejada agonia
que o reverso do medo se abrasa
em rendas de branco .são matizes de
um brincar menino onde as palavras
copejadas pelo afecto
se entre.laçam e beijam
ansiosas pela tornada ao ninho .a ave
nexo de um assombro de nume
abriga-as
doce mente
como se a nudez fosse mátria de adornos
não necessários quando a poesia acontece
como causa navegante no limite do in.certo
porque
curvados os rostos
o aconchego se apronta na
rotina de uma vulgar encenação






gabriele corno







-enquanto-







fundeados os modos de sagrar o divino
inferniza-se o verbo na sobrevivência
de um aleatório orar .nada se confirma
num silêncio (con)sagrado no abandono
como nada se diferencia num acordar os
ratos nas margens dos pântanos .as
armadilhas deixam marcas enquanto
os machos demoram o olhar no
ofício da singularidade .mordem as mãos .a
boca oscila entre o a-braço e o grito e o
corpo assenta a poeira dos lugares
comuns
-enquanto-
vinculado à ambiguidade
um mar de gente afoga o rosto
no vaticínio de um pulsar canhestro






gabriele corno







o longe ir.reverente ao perto







inundada de uma afonia pioneira do não e duma
demanda
arrogante e crítica
o sim desce sobre o longe numa fuga ao canto das
desistências nervosas .vingam-se os dedos sobre a
ir.reverência da carne
.corporizado o amor
soltam-se os ventos arquivados no tronco certeiro
do longe .há um inundar de equívocos se denunciadas
as fugas e um fundear de artifícios moldadas as
perguntas .tornam-se imaginárias as respostas .e é na
confluência do agora que a denúncia agrava o falso
apostado em prosaicas carícias .o tempo
arvora a poeira e retirada a máscara em sacro ritual
adjectiva-se um modo outro
de ignorar a ganância literatizada em hasta pública






gabriele corno







regresso tardo às origens







há um golpe rude e certeiro que
singulariza a palavra
.fá-la retroceder à concha inicial onde
no rio de todas as memórias se
manifesta a saudade e como um
resquício de ternura deixa-a crescer
na perfídia nocturna que um a-mar mais
bravo acresce ao sonho .na casa
do lago
um livro de horas falha o preciso segundo
de acreditar o futuro já que tardo o engano
se perde em gestos no descarno do hoje
.ninguém re.verte o
in.dizível
que de passagem
aflora o ilusório e na demência da
frase ressarcida numa página em branco
doura o mistério demiurgo do moldador 
.a palavra
enquanto o café arrefece
demite-se do elitismo dos segredos apócrifos






gabriele corno







uma forma outra de recuperar o tempo







não gastes palavras .não soltes os ventos
.cerra as mandíbulas escorrentes os modos
e se amanhã a ilusão for o mote
arroga-a
de prestes
à minudência de uma vaidade falhada ou
a um golpe de mestre alijado ao futuro 
.volta menino ao útero da língua e no
traçado do passo
gravida o engano .o jogo feminino no sentir
palpável discursa por dentro
onde tu demoras
apostado no erro e
transferes a lucidez do ontem para a falácia do
hoje
apegado ao fascínio e à mordaça de Vénus
.volta menino à espada e ao sal .à tatuagem do
tempo e recupera
arrumada a casa
a solidão do nada no voo do falcão






gabriele corno







desculpas a menos após erros a mais







por um mar de trocos se engoda
o tempo .se derrama o sangue em
gotas minúsculas e o gesto tenso
fomenta o logro na ir.reverência
da língua
.queimam-se desculpas
obedientes às vezes
no calor da tarde em pele de mulher e
se o arrojo esquiva o amante
levantam-se os corpos intermediários
da fala
platónico desejo
que a culpa ensombra .talvez o deslace
como fétido enfado






gabriele corno







na distância dum novo a-deus







rescaldo de um outro saber o tempo
o ventre escama-se e
os pulsos amarrados às solturas de
um arquejar
venoso
levantam as grilhetas que a língua dos
mortos deixou pendurada na janela
do sol
.vergam-se as vozes sob um comando
manchado de negro e o fogo
comandada a des.ordem
solta faúlhas nos braços de Leviatã
.o ruído
ao voltear a passagem
desarma a distância
brevíssimo elo entre a urdidura e a
morte






caras ionut







assim de.morado o medo







é na cripta da vaga que os arcanos
se moldam .que o calor abrasa e a voz se
cala de.morado o medo .soltam-se
uivos como panos de fundo e os abutres
em território neutro
tergiversam a voragem .sair é
quase um modo outro de estar mais perto
.o longe assusta ao dividir o tempo e
na cadência
muda de ir
ficando
o medo paralisa o cérebro cego pela ruínas
que servem de morada .há um fechar
de portas .um dividir o tempo ferida a raiz
nas chamas que alucinam .a terra chora a
morte das árvores e os pássaros
sob o céu
vermelho e cinza
do temporal faminto
debicam o útero in.fértil em mar de fogo






caras ionut







entre a leveza do brado e o uivo do lobo







adormeço-me nos excessos que se
alvejam demais .pareço-me ave presa
ao labirinto de um olhar entre a
leveza do brado e o uivo do lobo .ando
devagar
ao passo dos arcanos e pinto de recados
as minhas vestes solto o espírito
em busca de pousio .resto-me virulência
se o silêncio tarda como rescaldo de um
voraz tributo e aos deuses deixo o sentido
absurdo de um códice como frio que se
instala na minha face
arrasto
de orvalho






caras ionut







deixo .ouso .entrego .demoro .lavro







deixo o tempo folgar enquanto durmo
encostada ao verso .ouso-o de mãos vazias
em tempo de esventrar metáforas .absorvo-
-o
des.dito
em chão de violinos .entrego-o
fragmentado
a nocturnos des.concertos .demoro-o
na melancolia de um acordar depois
e quando
caída a máscara
em parto demorado
submeto-o ao adorno do rasgo .lavro-o em
chão
no rigor das horas e
descarno-o após o abate






caras ionut







urge rasgar parênteses







de novo gastam-se as palavras
ao des.obrigar o sagrado
irmão de uma memória que se quer
devassa .ressonâncias semeiam os
a-braços entre profecias .a glória
acorda-se no embuste .sobram plásticos
à cegueira das cátedras e as ruínas
erigidas em barro imortalizam a
excelência dos convénios .o erro obriga
a errância do verso mais-que-perfeito já
que o im.perfeito se admite como
perdulário de castas






caras ionut







o soletrar das vogais







é no rasgar a carne como paradigma
da dúvida que abandono
o estigma de um outro efabular
.insisto no território das anástrofes
para esventrar as estrofes no embuste
dos jogos .concertados .amanhã
é tempo de colheita .as farpas apontam-se
mais tarde






caras ionut







no inverso das marés-mortas







esperto-me embalada em sílabas
átonas
como se as mesmas degolassem o sentir
menor
matriz desfeita em in.vigilante
labirinto .devolvo-a
nua
a um outro escrever
em ressonâncias maduras e roubo o
ritmo nocturno dos espaços
aos versos esventrados






caras ionut